sábado, 11 de junho de 2011

RESSACA BEIRA A/MAR





Tarde sombria e nebulosa...

Mas, a noite passada já prometia o dia seguinte encoberto...

E entre/cobertas a menia fingia para que não se descobrissem sua saudade in/coberta...

E na quietude que fingia no corpo, a alma gritava dilacerando-o...

Calou-se: engoliu o choro que de seus olhos como rio desaguava de mansinho até seus lábios que gota a gota encontrava-se com a saliva como com o mar em sua boca...

E corpo e alma unidos eram só águas... por mar/aguados...

Os gemidos da alma, que já de ti queria partir, não foram nenhum pelo corpo parido...

Tudo sufocado, estrangulado, trancado...

Só as águas não podiam ser represadas...

Transbordavam!

E as lágrimas que degustava lhe trazia o sal... mas eram doces também...

Havia tantos que a podiam ver e consolá-la...

Mas, não queria consolo, carinhos de outros... Não havia nada fora de si que a pudesse tocar...

Já havia vívido e gritante um amor pela alma pintado...

Este era o doce que o sal adocicava!

E o corpo pela alma se deixou levar... E/levar... Levado e elevado!

Naquela tarde sombria e nebulosa, resolveu que não mais abraçaria em abstrações um amor tão delicado – obra de sua alma que o imaginava e pintava.

Decidida foi à beira-mar... E bem poucos estavam lá...



Estava frio... Muito frio...

O céu bravio respondia com nebulosas escuras às ondas que em ressacas arrebentavam nos rochedos da margem, assim como a alma da menina que sucumbia: agitada, marejada e querendo algo sólido pra se agarrar ou também arrebentar...

E de ímpeto se inspirou... Aspirou as brisas que em ondas sentia...

E tal como o criador original, no vazio que se fazia, com a areia que em seus pés sentia, pôs-se a esculpir, erguendo, dando forma, ao amado que em si vivia...

Também a areia estava úmida e fria...

Fechou os olhos para melhor visualizar a obra que em si sentia, ouvia... E sabia... Jamais esqueceria!

De punhado em punhado... Tudo dedilhado e acariciado... Assim, de areia, esculpiu como homem a estátua de seu amor...

Mas, não havia cor... O que produzira estava cinzento como o dia que a emoldurava...

Contornou os olhos de sua obra à imagem e semelhança do que sentia em sua alma e re/tocou-os para que o olhar estivesse a mirar sorrindo os seus...

Mas havia de serem mais escuros... Assim como as nuvens agora também escureciam...

Diante de ti tinha agora seu amor esculpido...

Mas, ainda faltava tanto... Sobretudo faltava-lhe vida!

E lágrimas brotaram de seus olhos... Vida chovida...

Mas ali diante de si havia mais do que jamais tivera de seu sonho que tanto quisera concretizar...

E de olhos fechados... Docemente o acariciou... Quis lhe dar seu calor...

Quase nem notou... Mas, um caco de vidro cortado e jogado por seus pés foi pisado...

Sangrou!

Encantou-se com a cor... tinta/vida que a seu amado faltou...


E enlouquecida com o caco já nas mãos... Pôs-se se a/riscando... Gota a gota a banhar seu amor!

E sentiu-lhe a vida brotar...

Largou o caco, que cacos nada mais são do que fragmentos de algo que um dia foi... Assim como àquela saudade doída de abraçar o que nunca abarcou...

Abraçou seu amor tingido de rubra cor, e assim nele aninhada... 



Chorou!

O céu de nuvens re/voltadas, de inveja talvez, se fez em bravia tempestade...

E a criatura abraçada a sua amada... Por sal e sangue banhada... Agora, era aos poucos devorada, corroída e intempestivamente pela chuva desmanchada...

E no vazio que a levara até à beira-mar... A doida sofrida se viu de repente ao nada abraçada...

Desmanchou-se em águas também e com a boca colada à areia/chão... Em carne viva e de olhos fechados, por lágrimas vazadas e por sal salpicados... Beijou o que dele restou...




Sal adocicado!

E o mar também se re/voltou!

Ah/mar que sabias tudo de si e de todos que testemunhava há/mar, amando-se!

E como supremo ser sentido... Em gigantesca onda se levantou...



Em reposta à tempestade que insensível assistia tal amor se desmanchar em tantos líquidos derramados; resolveu ele batizar e/ternamente àquele amor...

Inflou-se de ares e brisas e de um só impulso os tragou!

Viu bem o último olhar que ardia da mulher que agradecida entregou-se sem pudores a sua piedade de amor...

Levava os punhos cortados... Porém com areias em punho cerrado...

Seu último olhar antes de pela onda ser abraçada refletia a imagem do ser amado por ela carregado e sabia já como joia rara em colar inseparável, seriam no fundo do mar guardados...


Segredados!

E... Se outras testemunhas houvesse também choveriam...

E por mar/aguados chorariam...

Amor por toda uma vida por salgadas lágrimas banhado agora afagado pelo mar também de águas e sais a batizá-los dando-lhes na morte vida...

Enfim, almas libertas dos corpos que os prendiam,e agora e/ternamente no mar a/mar por toda a vida morrida...

….

4 comentários:

  1. A liberdade acaba sempre sendo a mais doce das sensações... mesmo estando um pouco salgada...

    LoucaMiaaaaaaaaaaa

    bjaoooooZaaaaaoooooooooo

    Catita

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  2. Minha linda poetisa-escritora-maravilhosa...

    É sempre uma aventura mergulhar nas águas dos seus versos - sempre tão pueris, plenos e doces... conseguem ser tudo isso e muito mais, ao mesmo tempo!

    Amo ler-te e me deliciar, sempre!!

    Beijo gigante no coração!

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  3. Coisa linda vivenciar essa liberdade tão plena...
    Adorei!
    Bjs querida!

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  4. Olá, hoje estou passando para trazer um carinho a mais, indiquei seu blog para receber o selo POTTERY FRIEND que ganhei da amiga Paula do blog Poemas, Poesias e Pensamentos. Se quiser pode pegá-lo no meu blog, na página selos e carinhos. Parabéns!
    Beijos no coração!

    Thatiana Vaz

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