Alguém disse certa vez que só há dois tipos de escritores: os que escrevem e os que não escrevem...
Às vezes... às vezes estou tão povoada de palavras que não consigo escrever ou descrever...
E às vezes... às vezes diante de alguma cena, que sei que é extremamente importante – crucial, mesmo – em minha vida... deixo meu corpo com as palavras e me desloco do corpo... e deslocada de mim, simplesmente assisto... Às vezes são cenas completamente hilárias... outras, pura emoção! Mas... mas há aquelas em que esse deslocar é pura proteção...
Um bom texto no contexto gêmeo é sempre uma excelente peça... E quantos belíssimos e comoventes espetáculos o teatro da vida é capaz de nos proporcionar... são presentes... sempre presentes...
Um dia desses, num desses espetáculos, chorei... Chorei justamente diante da cena em que eu chorava... Quando um ator é capaz de emprestar sua própria emoção à sua personagem, todos os espectadores também se comovem.. E eu assistida ali era muito mais do que as palavras ditas... era, principalmente, as não ditas; e por ter tanto a dizer me calei... nas minhas entranhas as palavras gritavam... discutiam... clamavam à atenção... queriam ser ouvidas... e mais... ser sentidas!
Houve tamanho atropelo entre elas, que no desespero pela tentativa de comunicação, todas se dirigiram às pressas para as cordas vocais... mas, como eram muitas... entalaram na garganta. E o nó que formaram permitiu a passagem apenas de umas poucas... bem poucas mesmo...
E eu ali assistia aquele eu sempre tão seguro, sempre tão falante... ali, diante do outro que no meu silêncio roubava a cena...
E então, ouvi-me dizer com lágrimas silenciosas: “Que belo texto isso daria...”
Algumas outras palavras se arriscavam na tentativa de desvendar o sentimento presente... e vestiam-se com suas melhores significações... mas diante da frieza no outro... uma a uma se viam despidas... tinham as entranhas arrancadas... e esvaziadas sucumbiam... Eram inúteis!
As palavras e os respectivos conceitos por elas formados só servem quando há ao menos um sentido...
A cena por mim assistida era comovente... percebia as linhas, as entrelinhas e as sobre linhas... Eu me via com lágrimas nos olhos e com lágrimas assistia... Mas ambas fomos caladas não com palavras... mas com um olhar...
As palavras do outro eram gentis... doces...mas eram todas tingidas de um amarelo gritante: covardia! Algumas pessoas se escondem atrás de belas palavras... outras se expõem... e as palavras servem igualmente... democraticamente à covardes e heróis... mas os covardes... esses sempre sobrevivem...
E era justamente esse o contexto daquela cena... Um covarde assassinato de um eu... E em lágrimas publicamente expostas uma morria e já era outra que assistia...
E desde aquele momento há tantas palavras em mim... que ainda estou tentando organizar uma fila para que desfilem o belo texto que uma triste história fará nascer... é triste sim... mas sem dúvida um espetáculo para ser aplaudido em pé...
É a vida na sua mais clara expressão...