Morri!
E tantas vezes morri...
E tantas vezes em luto assisti um outro eu comovido com o funeral do
eu que vira agonizar... Que hoje me pergunto se quem morria era o eu
que perecia ou o outro que como feto apodrecia...
Eis que de todos os eus... o que nunca consegui matar é justamente
esse eu tão subjetivo... E aí me vem você... É! Você, caro leitor, e
me pede mais objetividade... A única objetividade que conheço é
justamente aquela que me mostra o subjetivo desse mesmo objetivo...
hein??? Vamos! Seja mais objetiva, ouço o tempo todo... Mas de que
objetivo estás falando... Daquilo que você vê? Mas, se é você quem
vê, como poderei ver igual??? Ora, por favor... seja subjetivo para
que eu, quem sabe, consiga entender de forma objetiva...
Afinal, afinal morri mesmo... Mas morri outra... Claro que vi você
em meu enterro... e agradeço as flores que levaste... mas as suas...
as suas, diferente das outras que recebi... não eram banhadas por
lágrimas de saudades... e não poderiam mesmo ser... era outra que
matara... aquela era produto da consciência que tu mesmo
produzira... e era tão objetiva... não era??? Mas, sim... as flores
que levara, sabia que era para já seduzir a outra que nascia... Mas
a outra... A outra também já era outra... Você tem o hábito de
confundir tudo...
Sei que não morri em vão... é preciso mudar... e talvez seja
necessário mesmo... talvez tudo o que faça sentido seja essa
mudança... Mas já morri tanto, que temo nunca mais tirar o luto... é
um eu que se vai... e um eu que chega... um eu deteriorando e um eu
comovido que se (re)faz... e quando penso que finalmente sou eu quem
aqui se assume... já agonizo com a visão do eu em preto que se
aproxima...
É isso! Por que essa melancolia? É que estou prestes a morrer de
novo... e você... e lá vem você cobrar a objetividade de novo...
ahhhhhh, quer saber? É você o fantasma... é você quem morreu sem
ninguém para assistí-lo... você morreu e não percebeu... andas
vazio... zumbi... e só andas por sugar tantos eus que canso de
enterrar...